quarta-feira, 14 de abril de 2010

Letras e natureza


A escola primária na aldeia da minha mãe é um edifício que está a ser recuperado.
Com o passar do tempo e depois de muitos anos de abandono, o telheiro que havia nas traseiras caiu. Era aí que brincávamos no recreio. Cantávamos, fazíamos jogos de roda, brincávamos ao lencinho...
Nestas férias da Páscoa verifiquei que a escola estava em obras. Vai ter um novo telhado, o telheiro vai ser construído, vai ter novos sanitários. Este edifício, segundo a minha mãe, será para os escuteiros de Mirandela.
Quando regressei a Portugal com oito anos, depois de ter andado em diferentes escolas na cidade, porque tive de começar pelo 1.º ano, frequentei ainda esta escola. Fiz aí o 3.º e o 4.º anos. Tive também várias professoras, pois não era fácil para uma professora fixar-se numa pequena aldeia. No 3.º ano tive pelo menos três e no 4.º duas. O exame de 4.º ano foi feito numa aldeia a mais de dez quilómetros de distância.
Não consigo lembrar-me de nenhum dos nomes das professoras que tive nestes anos. Mas sei que uma delas me marcou muito. Porque a sua forma de dar as aulas era muito diferente.
Um dia, mais perto do fim da manhã, levou-nos para o exterior para fazermos uma actividade. Pediu-nos para que levássemos o caderno e o lápis e que nos sentássemos no chão.
Sentei-me nas fragas. Outros colegas sentaram-se no muro e no chão. Então, a professora pediu-nos para que observássemos a natureza, ouvíssemos os seus sons e sentíssemos a brisa. Tudo para quê? Para que escrevêssemos uma redacção sobre a Primavera.
Nesse dia escrevia as minhas primeiras quadras dedicadas a essa estação do ano. Hoje sinto pena de não as ter porque as ofereci a uma tia minha, que não pôde devolver-mas.
A partir daí, passámos a sair mais vezes da sala de aula, não só para escrever, como também para ler em voz alta. Como adorava estes momentos! Acho que foi aí que tudo começou...
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Fotos de F Nando

11 comentários:

Poetic Girl disse...

A recordação mais viva que tenho da minha infância é uma Bela de nariz enfiado nos livros, de caneta e papel na mão. Sempre a rabiscar palavras, inventar histórias, ter amigos imaginários e que bom que era. Fui tão feliz! bjs

Ana Paula Motta disse...

Seu post me fez lembrar de uma das minhas professoras da faculdade. Deixava que eu escrevesse olhando a lua.

Natália Augusto disse...

Olá Bela,

revejo-me nas tuas palavras. Desde então nunca deixei os livros, um caderninho que tenho sempre à mão e histórias que invento.

Bjs

Natália Augusto disse...

Querida Ana Paula,

há sempre professoras que nos marcam. Essa permitiu-me sentir tudo e pôr em palavras o que sentia.
Faço-o até hoje.

Beijoca

Unknown disse...

Natália,
Há sempre um príncipio para tudo.
Não me lembro de quando começou o meu gosto pela escrita: Creio que ele sempre "habitou" dentro de mim, mas escolhi as Ciências, nunca dediquei muito tempo a estas "cenas". Creio que foi já no CE qd comecei mm a ter de escrever os famosos discursos, o contacto com vocês, gentes das letrs. Depois, a responsável máxima foi a Teresa, que aos poucos e poucos me foi desafiando para esta novidade do blog. Ela é a grande culpada!!
Bj

Teresa Diniz disse...

Que boas são essas recordações de infância! E como é reconfortante pensar que, apesar de tudo, sempre é possível que haja alunos a lembrar-se de nós com carinho!
Bjs

Natália Augusto disse...

Ainda bem que a Teresa te desafiou a criares este blogue. Diz lá se o desafio não te está a dar a possibilidade de escreveres sobre o que bem te apetece? Além disso, ainda partilhas as tuas reflexões com os teus leitores virtuais e com os amigos!
A blogosfera é um mundo que já faz parte do nosso quotidiano. E é bom, não é?

Beijinhos doces

Natália Augusto disse...

É verdade Teresa. Há experiências que não esquecemos e professores que nos marcam quer pela positiva, quer pela negativa. Tive muitos que me marcaram pela positiva. E sim, é gratificante que os alunos se lembrem de nós por termos feito a diferença.

Beijos virtuais

F Nando disse...

Natália há momentos que nos marcam e quem sabe se esse momento não tivesse acontecido de que forma isso não te iria influenciar tambem?
Bjs

Natália Augusto disse...

Olá Nando

Esse momento marcou-me pela positiva de várias formas. Descobri a minha paixão pela escrita e pelo contacto ao ar livre, enquento o fazia ou lia.
Na minha prática docente, também utilizei a mesma estratégia nos primeiros anos que leccionei e resultou muito bem.
Tal como eu, os alunos ficaram encantados de saírem da sala de aula para escreverem e lerem os seus textos.

Bjs

Olga Mendes disse...

Também não me lembro das minhas professoras do 1ª e 2ª porque foram muitas, estavam sempre a chegar e a partir. Na 3ª e 4ª tive só uma que era a directora da escola, só me lembro desta. Era uma escola muito parecida com a tua e que está agora a sofrer obras para poderem ter pré-escola incluída. Beijinhos.