terça-feira, 6 de outubro de 2009

Hábitos de leitura: quais são as suas manias na hora de ler?

Capa de um dos livros da minha biblioteca pessoal, que me foi oferecido por uma amiga inglesa, em 1996, quando ambas nos encontrávamos a leccionar num colégio em Auxerre.
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Não nascemos leitores mas tornamo-nos grandes leitores se o gosto pela leitura for incutido desde tenra idade. A leitura é como se fosse uma espécie de fome que nos leva a devorar todo o tipo de livros.
Acho que já fui, noutros tempos e noutros momentos da minha vida, uma grande, curiosa e ávida leitora. Agora, por circunstâncias várias, leio menos do que gostaria.
Em criança lia sobretudo contos de autores franceses e banda desenhada. Desse tempo ficou-me o gosto por todo um imaginário povoado por gnomos, duendes, princesas, fadas, bruxas e unicórnios.
Certo dia, vi-me em Portugal, longe dos meus pais e do meu irmão, e sem os meus livros. A minha biblioteca ficou lá atrás no tempo e no espaço, para sempre perdida. Na casa das tias e tios, por onde fui saltitando, ou não havia essas preciosidades ou não podia tocar-lhes.
Já em casa da minha avó materna, descobri outro tipo de livros de páginas amarelecidas, manchadas e gastas pelas mãos que tinham folheado aquelas páginas e pela inexorável passagem do tempo. As temáticas eram vávias, todavia predominava a religiosa.
Para além da Bíblia, dois livros chamaram também a minha atenção. Não me recordo dos títulos. Um era sobre a vida dos Santos, as suas vidas, os sacrifícios e martírios por que tiveram de passar, até se tornaram Santos. Outro era sobre a interpretação de sonhos. Qual o significado de determinadas paisagens, animais, e muito mais.
Aos treze anos, o meu pai ofereceu-me o primeiro romance, em dois volumes: A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis. Recebi os dois volumes, que lhe tinham pertencido, e li-os num ápice. Reli-os várias vezes na minha adolescência. Foi a partir daí que descobri os clássicos.
Já no Secundário li outras obras e conheci outros autores nacionais e estrangeiros. Nas férias de Verão costumava reler os livros que tinha adquirido ao longo do ano lectivo e/ou que as minhas amigas me emprestavam. Gostava de os levar comigo para o campo, deitar-me nos tufos de erva e lê-los e relê-los até à exaustão. Depois dava comigo a olhar para o céu e as nuvens, a imaginar as personagens, os ambientes, o desenlace.
A Universidade abriu-me ainda mais os horizontes e o gosto pela leitura. Hoje, para além de ler em francês e português, leio também em inglês.
Confesso que amo ler nessas três línguas e, por vezes, quando estou sozinha, estirada no meu sofá, leio excertos em voz alta para ouvir a sua sonoridade e para saborear cada sílaba, palavra, frase, em busca do seu lado expressivo.
Há já alguns anos que tenho o vício de sublinhar passagens, expressões de que gosto. Se me identifico com o que leio, escrevo pequenos comentários na margem do texto ou no início ou fim dos capítulos.
Gosto de ler em quase toda a parte, excepto na praia. Por causa do vento, nos dias de ventania; por causa da areia, que teima em ficar dentro do livro; por causa do protector solar, que mancha as páginas.
Creio que não me vou alongar mais. Seria prolongar o sofrimento dos possíveis leitores deste texto. Confesso que antes de o redigir, desconhecia que era uma leitora com tantas manias na hora de ler!
Termino apresentando mais uma. Hilariante ainda por cima! Houve uma altura em que sublinhava alguns dos meus livros utilizando na mesma página vários lápis de cor. Para quê? Para dar cor ao livro e para... não me perder. E olhem que não me perdia. Inseguranças da Natália que a Nathalie nunca teve... nem nunca terá.
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Nota: Tema de Outubro proposto pelo blogue Vou de Colectivo.

10 comentários:

angela disse...

Seu texto não cansa. Li com prazer, é bem escrito, encadeado, leve, gostoso.
Tenho minhas manias também, agora várias cores...só quando coloria livrinhos..rsrs. Manias são isso mesmo, coisas que tem sentido para a gente e não obrigatoriamente para os outros.
beijos

F Nando disse...

Que texto delicioso!
Gosto do final:
"Inseguranças da Natália que a Nathalie nunca teve... nem nunca terá".
Beijos para a Nathalie

Ana Filipa Oliveira disse...

Gostei muito de ler esta partilha! Eu, com o hábito de ler e com esta blogagem tão interessante, esqueci-me por duas horas de dar o antibiótico ao meu filho. As letras levam-nos para outro mundo e, por vezes, desconectamo-nos com o que é realmente importante. Dommage!

Ginger disse...

Gostei do teu texto... simples e agradável.
Também sublinho frases, sempre a lápis, e depois costumo escrever na primeira página do livro o nr das páginas que sublinhei, para as poder encontrar mais facilmente. E quando gosto mesmo MUITO de uma frase, até a transcrevo para um pequenino livro de notas que anda comigo para todo o lado.


kiss*

Teresa Diniz disse...

Olá Natália
Acho que não te perderes era pretexto, gostavas mesmo era das cores a saltarem das páginas.
Tens muita razão: não se nasce leitor, crescemos leitores...
Bjs

☆Fanny☆ disse...

Ler... é tão bom!

Eu diria que é um momento mágico em que nos libertamos da terra e voamos para onde o autor nos quer levar.

Eu adoro ler em sossego. Sem ruídos e outros sons incomodativos. Gosto de estar deitada sobre a cama ou então na praia sentada numa cadeirinha sem muitas pessoas à volta.

Quando me escapo para o meu cantinho no Litoral Alentejano gosto de ir para um miradouro que há por lá, meio solitário a contemplar o mar e a canção das gaivotas( ao fim da tarde é simplesmente mágico!)

É um duplo prazer...

Beijinhos para uma fadinha chamada Nathalie!

Natália Augusto disse...

Os meus dias são cada vez mais solares,apesar de ser Outono. Hoje o meu dia foi especial.

Os vossos comentários contribuíram para o tornar ainda mais especial. Esta aventura das Blogagens Colectivas permite-nos partilhar o que sentimos e somos.

Muito obrigada à Ângela, ao Nando,à Ana Filipa Oliveira, à Gingerbread Girl, à Teresa e à Fanny pelas vossas palavras.

Beijos

J Araújo disse...

Um belo texto sobre o hábito da leitura. Parabéns

Bj

Francine disse...

Eu também leio menos do que gostaria e também marco as passagens mais interessantes.
Adorei seu texto, ficou ótimo!

Também estou participando dessa blogagem coletiva. Gostei do seu blog ;)

Um beijo

André Campos disse...

Não gosto de ler livros sublinhados ou anotados na margem; gosto das edições mais antigas, com a grafia original; prefácios ou posfácios, quase diria que só gosto dos dos próprios autores; a certa altura, pelos meus 14-15 anos, só lia policiais detectivescos, e tinha que ser à noite, na cama, com chuva e vento, com bolo de amêndoa e bebida quente; gosto de requisitar livros na biblioteca (em regra escolho as edições mais gastas) e de comprar em feiras de rua; gosto de ler nos cafés e nas esplanadas e de há largos meses para cá só leio autores portugueses; tenho um preconceito relativamente aos livros de capa estrelicada que enchem os escaparates do hipermercado ou dos correios e gosto de imitar certos estilos de certos autores; muitas vezes, tão embevecido fico com o ritmo, com a escolha das palavras ou com os recursos estilísticos, que mais tarde não sou capaz de contar o enredo do romance; gosto de ler na praia - por causa da moldura sonora das ondas...
Bom! e por aqui me fico, senão nunca mais me calo.
Muito bom post, Natália!