quinta-feira, 16 de julho de 2009

Alma errante

Foto de Fernando Cardoso
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Algo inesperado me assalta quando leio os primeiros versos de um poema de Fernando Pessoa: “Viajar! Perder países! / Ser outro constantemente, /Por a alma não ter raízes [...]”. Na verdade, também não tenho raízes e nem me importo! Para quê tê-las? Não somos de nenhum lugar, mas de muitos.
Nasci num outro país: França! Depois, não compreendi bem como na altura, vi-me a habitar em casas diferentes, em locais também diferentes, em Portugal, Trás-os-Montes! Era uma criança e estava longe dos meus pais!
Muitos anos depois, a faculdade trouxe-me até Lisboa, onde vivi seis anos. Seguiram-se alguns anos em Alverca do Ribatejo. Sete, creio. Num desses anos, por escolha própria e profissional, regressei a França, por um ano. Vivi e conheci a Borgonha, residindo e trabalhando em Auxerre, mas passeando um pouco por outras vilas e cidades francesas.
Cansada de tudo, da capital, de mim mesma, regressei às fragas. Vivi três anos em Trás-os-Montes e visitei São Martinho da Anta, onde Adolfo Correia da Rocha/Miguel Torga nasceu e viveu, por um certo período de tempo. A seguir, seguiu-se uma breve estadia no Barreiro, ainda que trabalhasse noutra localidade. Desde 2006 que resido noutro lugar e pressinto que não vou ficar por aqui. Tenho uma alma errante. Nunca estou bem onde estou. Falta-me sempre algo. Falto-me eu a mim mesma, porque a minha relação comigo não é fácil.
Como dizia António variações numa das suas letras “Eu só estou bem onde não estou/ Porque só quero ir onde não vou”. Eu também! Acontece-me com frequência…
Porém, também sou de todos os lugares que encontro espraiados nos livros que leio. Sou assim tão eu e tão outra! E também constantemente!


3 comentários:

F Nando disse...

Tantos locais e as memórias que levamos e guardamos...
Nasci em Lisboa vivi bem perto da Assembleia da Republica naquele tempo era assembleia nacional, e só passados quase 50 anos lá entrei. Depois uma passagem breve por benfica sendo quase a ponte de partida para Torres Vedras até 73 até um dia que saí... Mas esta é uma outra história que vou deixar em suspense...
Nessa altura venho para a Amadora, uma breve passagem pelo Cacém e a partida para Coimbra com guia de marcha e dia de regresso marcado para o ano seguinte - era o serviço militar no Convento de Santa Clara-
Anos mais tarde vou para Lagos onde passo 10 anos.
Um retorno à Amadora onde estou há 5 anos...
Fica desde já combinado contar a história de Torres Vedras tem tudo: mistério, drama, ousadia...
Beijos Nathalie

Natália Augusto disse...

Fico à espera dessa história, pois os predicados que lhe são atribuídos prometem uma narrativa bem interessante!

Teresa Diniz disse...

Natália
Tens um desafio para ti, e este é mesmo para ti!, no meu blogue. Talvez venha ao encontro deste constante desejo de outros espaços e de outros momentos.
Se te apetecer, é claro.
Bjs