sábado, 6 de março de 2021

Estamos a seis de março de 2021. Tantas coisas se passaram desde o meu último post. Muitas. Algumas tristes, muito tristes e outras assim, assim. A minha mãe adoeceu gravemente em 2019, creio. Esteve internada no Hospital Distrital de Bragança após um AVC, durante alguns meses. Nem sei quantos. Depois foi transferida para os Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia também em Bragança. Nas primeiras visitas, apesar dos movimentos involuntários do lado esquerdo e de continuar a fazer hemodiálise, ainda acreditei que poderia voltar a ser a mesma antes desse episódio. Não obstante, assistimos gradualmente à sua partida. Como morávamos perto de Mirandela, o meu irmão conseguiu tranferi-la para os Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia em Mirandela. As viagens eram mais curtas e estava mais perto daquele que era o seu berço. A sua casa. A nossa casa. A sua aldeia natal em Trás-os-Montes. A nossa parte da infância e adolescência. Fazíamos frequentes viagens de Lisboa ao nordeste tranmontano para a visitar. E agora vamos para manter parte de nós. A última vez que a visitámos foi na Clínica de Hemodiálise, em Mirandela. Já não falava, mas conseguia ouvir-nos. Tenho a certeza. Falei com ela e disse-lhe o que senti naquele momento. Estávamos eu e o meu irmão. Nessa noite ele recebeu o telefonema a dizer que ela partira. 11 de junho de 2020. Num breve aleviar das medidas de confinamente impostas pela pandemia da Covid-19 conseguimos fazer-lhe um funeral com poucos familiares e amigos e com o devido distanciamentos Passou um ano e continuamos confinados. O vírus não nos deixou. Temos de aprender a viver com ele enquanto esperamos pela nossa vez de sermos vacinados. Vamos recordando o passado e vivendo o presente recorrendo a fotografias, a memórias e saudades. Este é o momento. Regressamos a nós. Lemos muito, vemos séries, filmes na TV, ouvimos música, escrevemos porque continuamos aqui ainda que um aqui estranho e diferente.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Minha mãe

A minha mãe esteve doente e ,por isso, estive quinze dias em Chelas, uma aldeia perto de Mirandela. Quase não podia andar e custava-lhe imenso a falar. Não se sabe bem porquê foi ao Hospital e lá detetaram que tinha líquidos no pulmão direito e nas pernas. Foi na Clínica de Diálise de Mirandela que resolveram o problema e apouco e pouco voltou a poder falar e andar. Assustei-me verdadeiramente ao vê-la tão debilitada
Mas a minha mãe é uma guerreira, uma lutadora e apesar de débil conseguiu passar por mais uma fase difícil. Admiro-a muito. Há dezasseis anos que faz diálise e já apanhou alguns sustos. A família toda apanhou, porém tem conseguido sempre derrubar os obstáculos que lhe vão aparecendo.
Amo-a e admiro-a muito. É um exemplo a seguir, sem dúvida. Eu, que também tenho uma doença crónica, não sou tão corajosa nem tão lutadora. Nestes quinze dias aprendi muito com ela e o diretor clínico que esteve comigo duas vezes e que muito conversou comigo. Ambos me deram força e energia para continuar a enfrentar a minha bipolaridade. Agradeço à minha mãe e agradeço ao médico Nunes e Azevedo.
Foram duas semanas difíceis todavia reconheço que também eu saí a ganhar. Hoje sinto-me com mais força para seguir em frente e não me deixar abater pela doença. Há sempre uma luz que brilha ao fundo do túnel, há sempre uma janela que se abre quando se fecha uma porta, há muita energia em torno de nós que faz maravilhas. Eu acredito. Minha mãe também. O médico também.  

quarta-feira, 22 de agosto de 2018




DIA DE VERÃO         


O dia nasceu azul, azul.
É verão.
Faz muito calor.
Sabe bem mergulhar na água do mar
e nadar, nadar, nadar.
Sentir a água no corpo é uma maravilha.
De tão transparente
vê-se o fundo
e até alguns peixinhos.

O dia nasceu azul, azul.
O sol brilha com intensidade
e o melhor é mesmo mergulhar,
na água fria do mar
nesta água transparente.

O dia nasceu azul, azul.
Busca-se uma sombra debaixo do chapéu
depois dos mergulhos repetidos
sempre a convidar a outras idas ao mar 
para aplacar o calor que está.
Sabe tão bem!


NOITE DE VERÃO


A noite cai tranquila,
o pôr do sol já aconteceu
deixando na linha do horizonte
tons de laranja, amarelo e vermelho.
A lua já chegou
vestindo-se de quarto crescente bem cheio
e espelha-se nas águas do rio Tejo,
deixando um caminho de luz.
O silêncio é total
nada se ouve a não ser o próprio silêncio
A tranquilidade que se sente é incomensurável.
Reina a paz por estes sítios
tão naturais e cósmicos.
O milagre de se ser continua
por todos os recantos deste reino
tão próximo do mar selvagem.
Sente-se a energia do universo onde quer
que estejamos.
A grandeza destes sítios tão únicos e singulares
mostram-nos que a vida existe
e que um novo dia há de nascer.



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Alcatejo

É bom estar à beira rio e molharmo-nos nas suas águas frescas. Faz uma brisa aprazível. Embora esteja muito calor, está-se bem aqui, assim, sem nada fazer a não ser desfrutar desta frescura do rio.
Observo que sob o sol quente e abrasador ondula no rio, de mansinho, a fragata Alcatejo. Já foi dar o seu passeio habitual levando jovens veraneantes rio abaixo e rio acima. Encheu-se de risos e gritarias juvenis e soube bem seguir o caminho de outras viagens.
Observo-a de longe e sinto que também vou embarcar nela para mais um passeio nas águas prateadas do Tejo. Imagino que vou até ao cais de embarque onde se encontra, entro e dou o bilhete antes de me ir sentar num dos bancos laterais. Entram outras pessoas. A viagem inicia-se. As velas são içadas e dá-se início a viagem rio abaixo bem perto ainda do casario branquinho da margem esquerda. Depois afasta-se gradualmente até atingir o meio do rio. Aí parece que quase paramos para observar as aves que cruzam os céus e os outros barcos de recreio ou que andam na faina da pesca.
A fragata Alcatejo navega em águas profundas ansiosa de mostrar a sua beleza e a beleza da paisagem ribeirinha. Segue calma e sem pressa ao sabor do vento . Depois retoma a subida do rio para voltar à sua casa, em Alcochete.
Todos estão animados e a conversa generaliza-se. Contam-se histórias que são as histórias de outrora e que animam os passageiros até à chegada ao cais.  
Depois do desembarque, a Alcatejo fica atracada ao largo do cais ondulando gentilmente sob o céu azul esperando a noite cálida e a chegada de um novo dia para retomar os seus passeios turísticos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Um dia de calor


Esta sou eu num dia normal de calor.
Estava numa esplanada e corria uma aragem fresca.
O mesmo não se aplica a hoje.
Nem de casa saí.
Está um calor insuportável.
Está um calor insano.
Está um calor impaciente em deixar um rasto de destruição.
Está um calor indefinível de tanto calor fazer.
Está um calor impossível de suportar.
Está um calor de mais.
Está muito calor!
Amanhã e depois o calor vai ainda aumentar.
Por favor, calor, vai-te embora.

Rio Tejo


As águas do rio Tejo estão intranquilas porque a maré está a subir. Os barcos ondulam abruptamente para baixo e para cima parecendo cascos frágeis. Não há ninguém a navegar. Não é a hora. Logo pela madrugada ou ao fim do dia são os momentos mais propícios para a faina da pesca e para ir apanhar o marisco.
Homens, mulheres, crianças e jovens chafurdam na lama para o marisco vir à tona para ser apanhado. Vão de barco até meio do rio e onde não há água, bem longe da berma protegida, largam o barco para iniciar a apanha do marisco. São horas de costas curvadas a remexer no lodo durante a maré baixa. É assim que obtêm o seu sustento todos os dias do ano e de acordo com a época do peixe e do marisco.
O Tejo sobe e desce indiferente à luta deste povo ribeirinho que sabe bem até onde ir. Como já alguns morreram afogados, todo o cuidado é pouco. É preciso estar atento à corrente, aos baixios, às marés, para não ser apanhado desprevenido.
A vida de pescador e mariscador é uma vida dura e nem todos querem deixar a sua vida nas águas turvas do Tejo. Os que têm este modo de vida são constantemente postos à prova pela natureza, mas todos são corajosos e cuidadosos. Prezam a vida mais que tudo. Só um descuido os apanhará desprevenidos.
O Tejo é sustento, vida e morte. De tão largo e fundo tudo pode acontecer num ápice, por muito cuidado que se tenha. Viver do Tejo é arriscar a vida todos os dias.